O que os sonhos revelam?

O que o sonho revelamFreud e Jung explicam como os sonhos revelam nosso inconsciente, aspectos de nossa personalidade que negamos, que nos assustam, que despertam nosso interesse. O sonhos revelam o que precisamos saber, mas ainda não temos coragem de enfrentar as claras, a luz do sol e do consciente.

 

Devemos entender que os símbolos dos sonhos são, na sua maioria, manifestações de uma parte da psique que escapa ao controle do consciente. (Jung, O homem e seus simbolos, 2008, pag 78)

 

Somos seres naturais, com instintos que expressam reações, desejos e necessidades geralmente proibidos pela cultura em que nascemos, com um rígido esquema de regras para a vida em sociedade. Os conteúdos classificados impróprios pelo código de costumes em que fomos educados são compreendidos e aceitos por nossa mente consciente, que se ajusta para a vida coletiva. Contudo, nossos instintos primitivos continuam vivos e procuram maneiras de nos informar sobre os nosso desejos, medos, sonhos e necessidades íntimas.

 

Os sonhos revelam nossa natureza primeira, nossos desejos íntimos, que parecem sem sentido quando analisados pela nossa mente consciente repleta de conceitos e preconceitos apreendidos através da educação familiar, religiosa e social. Uma das funções do sonho é descrita por Jung como compensatória, nos ajudando a viver o que não conseguimos em nossa vida diária, por medo ou mecanismos de repressão.

 

Comumente projetamos nas outras pessoas sentimentos de apreço ou desprezo. Estas pessoas que despertam estes sentimentos de repulsa ou admiração estão revelando tendências interiores negadas por nosso consciente. Elas geralmente aparecem em nossos sonhos para nos mostrar aspectos da nossa personalidade que negamos, e que agradáveis ou desagradáveis precisam ser integrados e vivenciados, ao invés de negados. As doenças resultam dos conflitos que surgem entre as necessidades inconscientes e as escolhas conscientes.

 

Auto-observação e treinamento da mente

Auto observacao e ttreinamento da menteEm suas pregações Jesus orientava seus discípulos a orar e vigiar, outros mestres espirituais e filósofos também ressaltam a importância destes hábitos. Da oração trataremos no capítulo seguinte, agora abordaremos apenas a vigilância, que é imprescindível para começarmos a treinar nosso corpo mental. Deixá-lo tomar as rédeas de nossa vida é muito perigoso para o crescimento de nossa consciência.

 

G. I. Gurdjieff, um filósofo contemporâneo a Freud, desenvolveu um método para que seus discípulos treinassem a auto-observação para o auto-conhecimento. O objetivo dele era nos ajudar a tomar consciência de nossas tendências, pensamentos padrões, vícios, preconceitos, etc. Durante alguns meses fiz parte de um grupo que seguia os ensinamentos de Gurdjieff e tive muitas surpresas ao descobrir muitas tendências conscientemente negadas por medo ou vergonha.

 

No estado não-evoluído, que é a nossa condição comum, o ser humano é, então, o mesmo que uma máquina muito complexa e intrincada que, ao contrário das outras máquinas, tem a potencialidade de saber que é uma máquina. A “máquina” humana pode estudar a si mesma. Este estudo poderá fornecer as indicações necessárias para a conquista de outro nível de existência, mais elevado, no qual o verdadeiro arbítrio é possível. Este estudo, porém, da mesma forma que o estudo de qualquer outro sistema complexo, poderá consumir um tempo bastante longo e exigir muita persistência e atenção (SPEETH, 1996, p. 50).

 

O método desenvolvido por Gurdjieff é uma alternativa para aqueles que precisam desenvolver uma disciplina de auto-observação, existem muitos grupos que utilizam seu método no mundo inteiro. Na internet é possível localizar um destes grupos.

 

A auto-observação deve ser desenvolvida em nosso cotidiano até tornar-se hábito. Para nos conhecermos com profundidade é preciso estar atento aos nossos pensamentos, sentimentos e ações. Esta observação vai nos requerer uma disciplina muitas vezes cansativa e dolorosa, pois indubitavelmente iremos nos reconhecer com características e maneiras condenadas pelo nosso sistema de crenças e valores. O início deste trabalho pode ser doloroso ao reconhecermos aspectos que consideramos feios ou condenáveis em nossa personalidade, destruindo assim a nossa imagem de bondade e inocência.

 

Quando me percebi sentindo inveja de um amigo, tive muita dificuldade para aceitar aquele sentimento, por classificá-lo como inferior. Durante este processo já enfrentei muitas crises por reconhecer outras características que condeno em minha personalidade, como a violência, o ciúme, a ganância, os preconceitos etc. Mas, se é difícil ficar de frente com estas realidades pessoais é muito gratificante reconhecer cada pequeno passo no sentido de superá-los, cada vitória nos dá mais força para os desafios maiores que se sucedem na caminhada de quem se propõem a evoluir de forma consciente.

 

A melhor maneira de enfrentar um pensamento mau que tenta introduzir-se em nossa mente é dirigi-la instantaneamente para algum outro pensamento de preferência caracteristicamente elevado e nobre. A mente pode pensar uma só coisa de cada vez e a simples colocação da atenção em alguma outra coisa elimina naturalmente o primeiro pensamento (TAIMNI, 2007, p. 95).

 

Para transformar nossa natureza inferior, cheia dos aspectos que classificamos de negativos, é preciso primeiro tomar conhecimento deles e depois substituí-los pelas qualidades que consideramos positivas. Este é um exercício que vai requerer de nós um esforço contínuo e que só poderá ser realizado com a ajuda do nosso corpo mental, capaz de apreender idéias, avaliar e formar novos conceitos.

Escrito por Silvana Medeiros